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Foto: Raquel Vieira- Vasco.com.br |
O Vasco é hoje uma referência no Brasil em termos de futebol feminino. Além de ter história na modalidade (revelou a maior jogadora da história do futebol brasileiro: Marta), o cruzmaltino vem fazendo atualmente um belo trabalho com suas categorias de base. Em 2012, o Gigante da Colina conquistou todas as competições que disputou na categoria sub-17, levantou taças na categoria sub-15 e festejou o título do Campeonato Carioca adulto.
Os resultados fizeram com que o esporte se tornasse o segundo mais acessado nas mídias sociais do clube, perdendo apenas para o futebol profissional. Tal visibilidade, porém, não vem ajudando ao departamento a superar suas dificuldades. Isso porque o cruzmaltino não está disposto a investir recursos próprios no Futebol Feminino por achar que o mesmo precisa ser auto-sustentável. Por conta disso se faz necessário o acerto com um patrocinador, que teria que desembolsar cerca de 30 mil reais por mês para manter o departamento funcionando da melhor maneira possível.
Na última quarta-feira (06/03), o programa Vasco Olímpico, do grupo Só dá Vasco, entrevistou Tadeu Correia da Silva, vice-presidente infanto e juvenil e diretor do futebol feminino do Vasco. Na oportunidade, o dirigente falou sobre a necessidade de um patrocinador, revelou detalhes do trabalho que vem sendo realizado e pediu mais valorização para o futebol feminino dentro do clube.
Confira a transcrição da entrevista:
Quando começou essa nova fase do futebol feminino do Vasco?
"Nós criamos o Futebol Feminino em 2009 e hoje o futebol feminino do Vasco depois do futebol profissional é o esporte mais acessado nas mídias. Infelizmente durante esses quatro anos nós não conseguimos nenhum patrocínio. Eu falo com tristeza que temos equipes no Rio de Janeiro, que não são equipes tradicionais e de camisa, que conseguem patrocínio. Deixo aqui a minha insatisfação e o meu apelo, pois o Futebol Feminino do Vasco é um dos mais acessado e foi campeão mundial no ano passado na Europa na categoria sub-17. Infelizmente não existe um reconhecimento do que vem sendo feito no futebol feminino".
Como o Futebol Feminino conseguiu se divulgar ao longo desse período? É verdade que o Vasco deseja que o esporte seja auto-sustentável?
"O Futebol Feminino conseguiu se divulgar por ser Vasco através de um Blog artesanal, de um Orkut e de um Facebook. A primeira ferramenta que fizemos foi um Orkut. Hoje é assustadora a interação da mídia do futebol feminino. O próprio marketing do Vasco diz que é o esporte mais acessado no clube depois do futebol profissional. O que falta são as pessoas mudarem suas mentalidades e começarem a entender que o prejuízo está na medida direta em que as pessoas que estão trabalhando não fazem seus planejamentos de maneira profissional. Eu não vou citar nomes, mas tem um clube no Rio de futebol feminino que não tem expressão e todo Campeonato Brasileiro ele tem dinheiro para pagar as meninas, ele consegue televisionamento nos lugares que ele vai e o Vasco não consegue. Aí as pessoas viram e falam para você que o esporte tem que ser auto-sustentável. Ele tem que ser, concordo. O homem que está frente do esporte faz o trabalho dele, faz a máquina funcionar, mas o pessoal da área de captação, de marketing, é que precisa correr atrás".
A marca do Vasco foi bastante divulgada na Europa durante a participação do time sub-17 no Mundialito de Clubes em Portugal. Pode dar mais detalhes sobre isso?
"Para você ter uma ideia, daquele momento até a data de hoje nós já recebemos convites para jogar Torneios na França, na Suíça, na Itália, a própria Ibercup em Portugal, Dinamarca...Pelo fato de nós termos ido para as finais, os nossos três últimos jogos foram transmitidos para a Europa toda. O Vasco é realmente um clube internacional. O Vasco é maior que os esportes por isso é que digo que qualquer esporte que você colocar a marca do Vasco vai ter um retorno. Não tem como não ter esse retorno. Em Portugal, na França, em todos os lugares, pessoas que falam línguas diferentes, comentam sobre o Vasco. As pessoas perguntavam para gente o que era Eletrobrás. Ninguém sabia o que era Eletrobrás. Ela teve um retorno muito forte com o futebol feminino nessa ida para Portugal, embora a Eletrobrás nunca tenha dado um tostão para o Futebol Feminino. A gente foi obrigado a usar na camisa e não pode deixar de usar. O Vasco tem força, existe um visibilidade grande. Agora, nessa semana, a Seleção de Futebol Feminino das Forças Armadas Inglesas estão no Rio e estão querendo fazer dois amistosos com o time de Futebol Feminino do Vasco. É com o Vasco! Por qual motivo não querem fazer com outros clubes? A explicação deles: Na Europa só se comentam em relação ao futebol feminino brasileiro sobre o Vasco. No Rio de Janeiro o Futebol Feminino foi campeão em todas as modalidades nos últimos anos. Até para a própria CBF o Vasco é hoje uma referência. Eu só gostaria que as pessoas de dentro do Vasco acordassem, só isso e mais nada".
É por conta dessa falta de recursos que o Vasco tem perdido jogadoras importantes? Quanto é necessário por mês para manter esse departamento?
"O negócio está ficando muito difícil pela insensibilidade do próprio Vasco. Quando eu falo próprio Vasco, falo de algumas pessoas. Insensibilidade por qual motivo? Nós tínhamos no ano passado sete atletas na Seleção Brasileira sub-17. Esse ano tivemos três e estamos para perder duas. Estão todos os clubes levando as meninas do Vasco embora. O Vasco não dá nem ajuda de custo de passagem para as meninas. A gente sabe as dificuldades que o Vasco passa, mas o que não entendo é o clube não conseguir um patrocínio de 30 mil reais por mês, não entra na minha cabeça. Eu não consigo entender isso. Perdemos essas meninas, não são mais do Vasco. Mesmo perdendo elas, fomos campeões sub-17 jogando contra o Bangu a final. Enfrentamos as quatro meninas que deixaram o Vasco e ganhamos. Estamos agora próximos de perder as duas melhores jogadoras sub-17 e se elas saírem, perderemos todas. Nós perdemos praticamente o time inteiro porque o futebol feminino não é visto como deveria ser visto dentro do clube. Estamos com um problema sério. Nós temos uma menina no Sub-15, essa garota na sub-15 é melhor que todas as garotas da sub-17 que apareceram na Seleção, sem demérito para ninguém. Isso dentro da posição dela, lógico. Nós vamos perder essa garota, não tem como. É uma garota paupérrima, que não tem dinheiro para se deslocar para os treinamentos. Como a gente vai fazer? Outra caso também aconteceu: Antes do jogo de sábado [equipe sub-17 enfrentou o campeão da Taça das Favelas em São Januário] agora, uma determinada pessoa, essa pessoa inconveniente faz parte de um clube do Rio, foi na casa de uma atleta levar dinheiro para o pai para fazer essa atleta sair do Vasco. Na véspera de um jogo. Ele poderia ter feito isso numa segunda-feira, no início da semana, mas a ética a gente não vende. Ética a gente constrói dentro dos nossos valores internos. A dificuldade é muito grande".
O que precisa ser feito para o Futebol Feminino ter o devido reconhecimento?
"Hoje em dia a própria Seleção Brasileira tem uma dificuldade muito grande. Não existem estaduais como deveriam existir. A gente para fazer um jogo em São Januário é muito complicado. Eu estou falando de São Januário, mas em todos clubes acontece a mesma coisa. Se não houver uma mudança de mentalidade, eu não acredito que o futebol feminino vá mudar e sair do amador. Tem que chegar da presidência da república alguma determinação através do Ministério do Esporte dando um prazo para as Federações, a CBF e os clubes começarem a olhar diferente para o futebol feminino. O nicho feminino na área de marketing é tão forte ou mais forte do que o masculino. Até em termos financeiros, a médio prazo, nós vamos perder dinheiro. Nós pedimos para fazer uma roupa feminina em 2009. Acabou que essa roupa feminina foi vender na Boutique e começou a vender na mesma quantidade que a masculina. As meninas querem um uniforme feminino. A maior parte das mulheres quando vão adquirir uniforme acabam comprando uniforme de homem. A nossa sociedade é feminino".
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Elenco Sub-17 campeão do Mundo em 2012
Foto: Vasco.com.br |
Com informações do Programa Vasco Olímpico/Só Dá Vasco.
Escrito por Carlos Gregório Júnior no dia 07/03/2013.