Byanca Brasil (Artilheira da Copa Almirante Vasco da Gama 2010) |
— Mas ela não é malabarista. Chuta com as duas pernas. É boa em todos os fundamentos — elogia Átila Alves de Araújo, de 39 anos, pai declaradamente coruja de Byanca. — E ainda sabe dar elástico (drible inventado pelo ex-jogador Rivellino) e pedaladas.
Enquanto ele lista as qualidades da filha, ela segue olhando para o chão. Não quer papo. Já Átila fala bastante, e com entusiasmo, sobre o potencial da menina. Morador de Campo Grande, ele enfrentou uma separação há três anos e passou a criar sozinho os quatro filhos: Junior, de 18 anos, Fernando, de 12, Rafael, de 7, e Byanca Beatriz. O “Brasil” surgiu como sobrenome “artístico" por sugestão de Claudino de Melo, ex-técnico da jogadora no Bangu e amigo da família. Ao assistir ao programa “Big Brother Brasil”, ele associou BBB à BB, à Byanca, à Beatriz, e, numa conjunção de trocadilhos, surgiu Byanca Brasil. Em vídeos no YouTube, ela também é identificada como “a rainha das lambretas”.
— No futebol masculino, ninguém dá lambreta, porque o drible é considerado um abuso pelo adversário. Mas o feminino é mais romântico, cabe uma lambreta — diz Claudino.
Aos 28 minutos de entrevista, Byanca dá uma trégua e responde à primeira pergunta:
“Onde você aprendeu esse drible?”
— Em casa, na escada — resume a menina.
No quintal da casa onde morou na infância, ela repete o drible consagrado nas quadras pelo jogador Falcão, da Seleção Brasileira de Futsal. Átila chegou a gravar em vídeo uma cena em que o craque dá uma lambreta num jogo. Byanca viu várias vezes o movimento e, depois, iniciou o treinamento, tendo como adversária uma escada velha de madeira.
— Hoje, em cada dez lambretas, ela acerta dez — diz o pai, que atualmente mora com os filhos em Realengo.
Como de praxe, o surgimento de um jovem talento resulta em avaliações prematuras baseadas nos exemplos de grandes ídolos. No caso, observadores mais empolgados chegam a comparar Byanca à jogadora Marta, eleita melhor do mundo nas últimas cinco eleições da Fifa. O atual técnico da seleção brasileira feminina, Kleiton Lima, reconhece seu talento, mas considera um equívoco criar tal expectativa.
— Ela tem um repertório de dribles muito bom. Mas daí a considerá-la uma nova Marta vai uma distância muito grande — avalia.
— A Byanca ainda precisa adquirir experiência em competições. Por enquanto, ela é uma promessa. O técnico destaca um problema crônico do futebol feminino: ganhar ritmo de jogo é um desafio e tanto na estrutura atual do esporte, ainda amador.
Nos clubes, não há continuidade nos projetos. As jogadoras são contratadas por torneio. Ao fim de cada um, são dispensadas e recontratadas na temporada seguinte. Sem dinheiro, muitas acabam seguindo outra profissão e abandonam o esporte.
— A jogadora de futebol feminino no Brasil tem um tratamento equivalente ao de um jogador masculino da série C — acrescenta Kleiton.
Em 2010, Byanca jogou um torneio pelo Bangu e outro pelo Vasco. No início deste ano, foi anunciada como jogadora do novo time feminino adulto do Flamengo. Em abril, um mês após o anúncio, o projeto acabou adiado. Logo depois, as 25 jogadores que representariam a equipe rubro-negra foram negociadas num mesmo pacote com o Bangu. Byanca entre elas. Mas a estreia na categoria adulta do campeonato carioca acabou adiada também. A adolescente ainda não completou 16 anos, idade mínima exigida pela Federação de Futebol do Rio. Hoje, ela treina no Vasco, visando ao campeonatos das divisões de base.
O sonho de Átila é ver a filha convocada para as Olimpíadas de 2012, em Londres. Nos últimos anos, para acompanhar de perto a carreira da menina, ele abandonou emprego e passou a “viver de bicos”, como pedreiro ou cozinheiro. Na semana passada, estava feliz por ter conseguido um emprego no refeitório do Vasco. Assim, poderá ficar mais perto de Byanca, e vai ganhar R$ 600 por mês.
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